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terça-feira, 29 de junho de 2010

POEMAS UM HOMEM SÓ



JULIÃO

Na tasca da Bernarda
Bebericando o copo da pomada
Julião regressado da jornada
Vinha de longe, a noite avançava
Cear?
Não queria saber de nada
Tinha de visitar a Bernarda
De dentro do Balcão
Mulher danada
Ao mocho saltava
Com os dedos a tamborilar
Dançava uma espécie de fandango
Em cima do mocho dançava
A acompanhar a dança
Cantava:
Dizem por ai que sou mocho
Dizem-me frouxo
Também lanzudo
Serei cornudo?...
Más línguas!…
Poderei ser tudo
De dia trabalho, mexo o chão
Ao som do garrafão
Oh Bernarda!...
Traz mais uma canada
A minha noite será animada
Pensarei com a alvorada
A minha loucura será parada
O Julião era outro, na madrugada
Parecia alma penada
Sempre assim quando aparecia
A estrela d’alva
A anteceder a sua alvorada

Daniel Costa

sábado, 26 de junho de 2010

POESIA UM HOMEM SÓ


NOITES DE LUAR

Chegara o Verão
No redondel da eira
Ao luar havia sempre serão
Eram belas as noites de então
Havia calcadoiros de pão
Os trilhos puxados por bois
Rodavam!...
Vá castanho!...
Bora cabano!...
Com forcados de madeira e ventos
O cereal da palha se separava
Em altos palheiros a desafiar
Intempéries, aguardando ficava
De alguma e outros materiais
A cabana se fabricava
Nas noites de acalmia, ali se dormia
Era, pernoitar ao luar
Em noites felizes de outros mundos
Guardar a eira, mais as inocentes
Anedotas que os vizinhos.
Como o, Zé Pedro, traziam
Eram um rir a fio
Tinha a Gigliola Cinquetti
Vencido o Festival da Eurovisão
O Zé diz: agora casou!
Sabem porque de ser Cinquetti deixou?
Perdeu três
Quarenta e sete adoptou
Depois chegava o milho
Grupos, juntavam-se a escarapelar
De novo, em noites, de luar
Vinham os manguais
Homens aos pares certinhos
Com força até acabar
Pareciam fazer facho
Acima, abaixo!...
Tudo se passava à vista do mar
Em belas noites de luar

Daniel Costa


quinta-feira, 24 de junho de 2010

POESIA UM HOMEM SÓ

Foto: Daniel Costa

SENHORA MINHA MÃE

Como se fossem bênçãos do além
Considero muito as mulheres
Fazem-me lembrar a minha doce mãe
Gerou nove filhos
A todos dedicou desvelos
Até a primeira, recordava com carinhos
A Esperança feneceu bebé, criança
Nunca a esqueceu
Ficou sempre como uma doce lembrança
A minha analfabeta mãe
Tinhas o gosto pela vida
Eras terna e inteligente, como ninguém
As árvores conhecem-se pelos frutos
Que delas provêm
Os maridos das tuas filhas
Aceitaram ser teus filhos também
Revelaste-te para eles
Uma segunda, uma terna mulher mãe
Netos dezasseis a ternura
Chegou a eles também
Em vida, bisnetos não conheceste
A abençoá-los estarás porém
Lá no Céu
São todos ainda miúdos aquém
Vejo na minha netita,
O teu sorriso mãe
A tua imaginação, a ternura com teu varão
Continuo a adorar as mulheres, esses amores
Fazem lembrar-me como eras então
Nunca esqueci que adoravas os jarros, as flores

Daniel Costa

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Daniel Costa