DEZOITO DE MARÇO
A empresa concessionária das listas telefónicas, detentora das Paginas Amarelas, a Celsa, do mesmo grupo da Bertrand & Irmãos, estava a enviar, diariamente, um grupo de pessoal a uma jornada guiada à impressora, afim de visitar e observar todas as instalações num curso, a que viria a chamar de reciclagem, visto que ficariam a entender melhor os mecanismos de fabrico, em livro, do muito trabalho de preparação dos anúncios e de toda a organização do mesmo.
A acção, como devia ser apoiada pela secção de CONTACTOS, por força teria de ser ali, ou mesmo superiormente equacionada. Não aconteceu e na primeira visita, sem a formalização de qualquer aviso, foi tomado o rumo certo pelo grupo, de que resultou a mobilização de João Moisés, sempre com disponibilidade para entrar em acção.
Aconteceu que no dia seguinte, tudo se manteve, João Moisés pelas quatro da manhã teve a felicidade de ser pai e… Chegou mais tarde.
Das chefias nada de resoluções, passar a manhã na missão de cicerone até era agradável, mas havia outras responsabilidades, que tinham de ficar adiadas e ali estava um outro grupo à espera que, sabendo do feliz acontecimento começou por: em coro apresentar, felicitações.
Resultou, sem tempo de ver o que havia de novo, ter de iniciar o dia mostrando, sector a sector, toda a fábrica gráfica.
Alguns dias, durou aquele trabalho, sem dúvida interessante, porém devia ser distribuído por todos os colegas, já que era de mais valia profissional, ou por isso mesmo, tornava-se didáctico, para toda a secção que liderava os CONTACTOS laborais exteriores da empresa, no fundo tratava-se de relações públicas.
O dia terá sido de facto, o dia mais marcante na vida de João Moisés, o inesquecível dezoito de Março de mil novecentos e sessenta e nove, ainda nesse espaço de apenas vinte e quatro horas, o vendedor que estabelecia os contratos com editoras, tinha em mãos a negociação de vários, com a conhecida empresa Selecções do Reader’s Digest, com uma reunião marcada com o administrador.
Não achou melhor do que apresentar o elemento, que acompanharia as obras.
Apareceu à tarde no seu “Triunf” desportivo e descapotável, a sua imagem de marca, a comunicar o assunto a ser tratado de imediato.
Começou por haver recusa, foi apresentado o motivo, mas era importante para a empresa e não ouve outro paliativo que não a aquiescência.
O dia era de chuva torrencial, o resto da tarde acabou por ser preenchido com a magna reunião e acabaria com a concretização do importante negócio, que competia ao titular de vendas.
No dia seguinte, soube que precisamente no dia dezoito a revista “Plateia” impressa na casa, saiu com duas fotografias suas, com o colega de gabinete e Vitoriano Rosa.
O porquê conta-se a seguir:
- A Agência Portuguesa de Revistas, editora da “Plateia” aniversariava nos jardins do então famoso restaurante Quinta de S. Vicente, em Telheiras para onde, além de todos os empregados da empresa, muitos colaboradores exteriores da editora, tinham sido convidados.
Á secção de CONTACTOS da Bertrand & Irmãos chegaram dois, um era destinado ao António Alcaráraz, o outro ao chefe Fernando Sobreiro. Este não podia estar presente e delegou a agradável “tarefa” a João Moisés, já que era o substituto daquele, quando necessário, no acompanhamento da revista que semanalmente era impressa no Dafundo.
Funcionando como anfitrião da festa, Vitoriano Rosa, na prática o verdadeiro Director, já que o amigo, Major Baptista Rosa, sócio da Agência, figurando na ficha técnica, entregara ao jornalista amigo, toda a condução da mesma.
Nessa qualidade, acercou-se chamou o fotógrafo de serviço, mandou disparar o”flash” e saíram os documentos, a inserir na reportagem da festa.
- Comentário de António Alcaráz:
- O Vitoriano é muito amigo, mostrou-o suficientemente, mas não haverá espaço, na reportagem para comportar este registo!…
- Queres apostar?
Mas, realmente as fotos saíram bem visíveis, no número da “Plateia” desse dia.
O Colega de gabinete e amigo António Alcaráz, por fazer parte dos soldados dos Sapadores Bombeiros de Lisboa, constantemente recebia chamadas para ajudar a socorrer casos de catástrofe na cidade, pelo que era forçoso ser substituído, por João Moisés, nos vários trabalhos que tinha em mãos.
Ocorreu várias vezes à Sexta-Feira de tarde, de ter de desempenhar a habitual tarefa, de em última hora, passar pela Comissão de Censura, em S. Pedro de Alcântara, com uma simples página semanal da revista “Plateia”.
Tratava-se de uma crónica critica de rádio, que um colaborador externo entregava, por regra, naquele dia da semana, por ser final de cada edição, para estar nas bancas todas as Terças-Feiras.
Nunca havia complicações naquele departamento, mas a censura prévia obrigava a esse procedimento, o trabalho continuava, porém a prova, essa ficava sempre arquivada, com o visto azul do lápis de algum censor de serviço.
Assim, nunca isso passou dum ritual, tanto mais que o Major Baptista Rosa, figurava como Director, o que era uma garantia, para que tudo corresse bem. Mas a prova tinha de ser lida antes, porque a censura prévia estava instituída.
O ritual dessas visitas da Sextas-Feiras cabia, por contrato, aos serviços da empresa impressora, devido a ser mesmo um serviço de última hora, dado que se evitavam perdas de espaço temporal, entregando a prova nos escritórios da Agência Portuguesa de Revistas, como acontecia noutros casos.
Embora este procedimentos, pertencessem aos editores, as casas impressoras estavam cientes dos problemas que podiam enfrentar com a Comissão de Censura, se algo corresse mal e que aquele reino achasse por bem intervir.
Ilustra-se com um caso ocorrido. Determinado cliente mandou executar uma gravura, crê-se que maldosamente, a mesma entrou na respectiva oficina, apenas o chefe ao verificar o original, viu o desenho muito bem feito, mas considerado pornográfico, o que poderia ocasionar sarilho.
Foi chamado e admoestado o responsável pela encomenda e de imediato recusado o trabalho.
Ter muitas encomendas era óptimo, mas sarilhos com a douta Comissão de Censura?...
Abrenúncio!...
Daniel Costa
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