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quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

O MUNDO EDITORIAL

Foto de Daniel Cordeiro Costa.
O MUNDO EDITORIAL
Afinal o paraíso parecia estar no Dafundo, visto pelo positivismo, havia coisas engraçadas, como a referência africana ao gabinete, que um colega desfrutava, por vezes depois de uma troca de impressões atirava:
- “Bem tenho de ir até à minha sanzala”!... Efeitos de também ter feito a sua comissão militar em terras de Angola!...
Era a zona dos CONTACTOS onde diariamente se recebiam clientes, alguns de grande nomeada, pois apesar do serviço poder fazer deslocações ao encontro desses, é de crer que a própria estrutura da empresa os fascinasse, a ponto de quererem ser eles próprios a estabelecer canais de comunicação pessoal, respeitante aos seus trabalhos.
Por vezes havia outras razões, até as que se prendia com a Censura Estatal, sempre omnipresente em todo o mundo que fosse sítio, tanto mais onde se poderia passar ao papel propagadas contrárias ao regime vigente.
Não vivida, mas sabida de um companheiro. Fora abjudicada à empresa uma obra em livro que depois de editada, seria lançada no Estádio da Luz, por ocasião de um importante desafio de futebol. No dia aprazado não foi possível a entrega, aventaram-se as desculpas esfarrapadas costumeiras, adaptadas ás circunstâncias, no caso.
Na Segunda-Feira seguinte veio a saber-se, na clandestinidade, dos mesmos originais fornecidos Bertrand & Irmãos, apareceu o livro à venda durante esse jogo. 
O caso, depois veio a ser entregue à polícia judiciária que, munida de mandatos, passou revista a casas de funcionários da empresa. 
Sendo assunto recente, mas passado antes da entrada de João Moisés, para este funcionou apenas como interessante, a existência de nobreza daquela ocupação era feita de outras causas.
Era recorrente a visita, à média de duas vezes por semana, por um trio de Administradores e Editores da Palirex, que quando eram avistados, muitas vezes alguém dizia: Tens aí os Índios para tratar!
De facto um destes desenvolvia os assuntos como se estivesse a negociar mercadoria de ferro velho, era o encarregado de gerir a contabilidade, o outro desenhador alinhava muito com o contabilista. O terceiro era verdadeiramente escritor e jornalista, o que tutelava mais a parte editorial, era o Roussado Pinto, que lhe passou a dedicar uma verdadeira amizade.
Com essa editora veio a acontecer algo de lastimável. Estava-se na era dos saquinhos de cromos, que viriam a preencher cadernetas, cujas completas, davam direito a um brinde. No caso, era composto de uma bola do futebol profissional, pois tratava-se de fotografias a cores de jogadores de clubes, que iam entrar na Taça dos Campeões Europeus, onde se contava a do Sport Lisboa e Benfica.
Eram muitos os cromos e as entregas feitas por partes, já que se compunham de várias folhas de 70 x 100 cm, com a necessidade de muitas horas de guilhotina, para separa todas as efígies dos jogadores, que iam entrar em acção.
Certo dia, um dos motoristas ao dirigir-se a entregar uma tranche de cromos, teve um desastre mortal e como consequência, além da sua trágica morte, os coloridos papelinhos espalharam-se por toda a via.
Caro que a empresa tinha seguro a cobrir riscos desses. O assunto era do foro contencioso, mas o contabilista vislumbrando a oportunidade de fazer grande fortuna, reivindicava insistentemente junto de João Moisés ser indemnizado de todo o material, pelo preço que venderia nas livrarias, ao invés do custo de fabrico que lhe assistia por direito.
O acompanhamento da obra acabou por se tornar demasiado complicado, com esse lance.
O Departamento de contencioso, acabou por, tratar do infeliz caso, como lhe competia.
Outra empresa de razoável dimensão, que por ali passou, designava-se Editorial Aster, editando além de outros, bastantes livros didácticos. Terá sido aquela, que mais ficou na retina por muitos motivos, não só por acompanhamento de trabalhos, mas porque fora deles perduraram amizades pessoais.
Houve a feitura de um livro escolar, “Ciências da Natureza”, por três autores, Capitão Mascarenhas Barreto, Dr. Perry Vidal e Dr. Barrilaro Ruas. O livro, como muitas vezes acontecia naqueles tempos, ia sendo concebido aos poucos, até que apareceu a obra impressa.
Além deles e daquela importante realização, de que Aster era editora, e um importante cliente, pelo que foram tratados relevantes trabalhos, recebidos outros eventuais colaboradores e empregados, além do próprio Administrador. Este apareceu por diversas vezes, a verificar itens talvez mais sofisticados, como a obtenção de prazos.
Merece destaque especial, Selecções da Reader’s Digest, um outro dos melhores clientes, em toda a linha, que teve sempre trabalhos em andamento, obras de grande envergadura.
A maior lembrança era a conhecida, por todo o país, Livraria Popular de Francisco Franco, da Rua Barros Queirós, por se dedicar à venda e distribuição de material escolar. João Moisés trabalhos algumas vezes com Carlos Mota, um herdeiro, por casamento, de Francisco Franco, com a particularidade de ser filho do Dr. Góis Mota, um Presidente do Sporting Clube de Portugal, que teve o privilégio de dar o arranque, com o lançamento da primeira pedra, ao primitivo ao Estádio de José de Alvalade. 
No ano de 1968, apareceu um colega com um cartão, pelo qual havia desembolsado a quantia de quinhentos escudos. Tinha entrado num jogo de “pirâmide", pelo que desejava passar o bilhete para outras mãos a todo o custo. No fundo já estava arrependido da aquisição, embora o objectivo fosse o negócio.
O João Moisés entrara em jogos do género, mas implicavam apenas a aquisição de alguns postais ilustrados, até sabia que era interdito, por lei, mas isso era no fundo um passatempo engraçado, mas “brincar” com notas de quinhentos paus?
Na década de sessenta era elevado e caro, a negativa foi o caminho natural, para o seu espírito de mau comprador.
A entidade patronal seria sempre algo de inesquecível. Pertencer a um grupo daquela envergadura e as condições achadas, continuavam a ser coisa de um outro mundo, muito desejado!

Daniel Costa

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