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quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

POEMA SERENATA


SERENATA

Esta “picolíssima” serenata…
Aos Domingos havia sossego
A enxada deixava de ser bravata
Nos finais dos anos cinquenta
Esta picolíssima serenata…
Eram assim os Domingos
Era assim a semanal serenata
À noite rodava a bicicleta
Para uma noite menos pacata
A caminho de algum bailarico
Esta “picolíssima” serenata…
Cantada ou tocada em todos os bailes
Onde era a inevitável nata
Pares rodopiavam, alguns pediam
Esta “picolissíma” serenata…
A música italiana fazia furor
Como se fora tonificante
Dançada calmamente, ou com ardor
Anos cinquenta, os meus dezassete anos
Depois de uma semana a cavar com fervor
Ainda que do grupo dos maiores
Aos Domingos nem tinha esse favor
Não mentia, escapulia
Esperava no outro dia o desamor
Até que um dia o pai disse:
Nada faço, ficas com a loucura desse sabor
Tens dezassete, és um homem, podes ir
Matarás sempre o bicho* comigo
Não quero saber se vens tarde, tens de convir
O trabalho não se pode compadecer
Com o pouco tempo que tenhas para dormir
Esta “picolíssima” serenata…
Venceu o muito querer
Esta “picolíssima” serenata
Soava a aventura vencida
Porque não a uma sonata?

Daniel Costa

* mata-bicho: espécie de pequeno-almoço, antes do nascer sol, composto por chouriço ou toucinho, assado, entre outros comestiveis e um copo de água-pé.



1 comentário:

  1. Querido amigo,

    como sempre adoro seus poemas-recordações.


    Carinhoso beijo

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