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quinta-feira, 23 de setembro de 2010

POEMAS UM HOMEM SÓ


ABRIL

Começa com o “dia das mentiras”
Assim, é um dia popular
Nada de safiras
No fundo um dia singular
Em “Abril águas mil”
É do vulgo popular
Mil novecentos e sessenta e quatro
Todo o santo dia chuviscou
Recordo esse desiderato
Chegava a Alcântara
Com extremo aparato
O navio Vera Cruz
Chuva miudinha
Uma desumana espera
Os senhores Generais
Tratavam milhares de homens
Como se fossem bandos de pardais
A espera para desfiles pressupunha
Quererem falar a animais,
Chuva miudinha caía
Sacos de comida individuais
Farda inadequada, não só para a madrugada
A rouquidão ameaçava
O Comboio de Chelas a postos
A Estremoz ainda nos levava
“Abril águas mil”, diz o ditado
Em Sessenta e quatro
Cumpriu-se o fado
Açafatas distribuíam flores
A qualquer casal estrangeiro chegado
Andavam muitos admirando
Na subida do velho Chiado
Com flores eram contemplados
O "Avril au Portugal" tinha chegado
Ninguém saberia
A casa de Garrett
O Teatro Nacional arderia
Em “Abril águas mil”
A democracia orgânica, o que seria?
Talvez a propaganda dos zeros
Em Abril com cravos acabaria!

Daniel Costa

1 comentário:

  1. Belíssimo Poema! Que tem uma ressonância em nós, às avessas, já que muitos discutem se o chamado *Golpe de 64* se deu em 31 de março ou 1 de abril. Na verdade, ocorreu em 31 de março mesmo. Mas A Revolução dos Cravos foi, a seu tempo, revolucionária e necessária, ao meu ver.
    Não és pessimista, Poeta e amigo Daniel. Sabes que também em sociedade nada se acaba, tudo se transforma.
    Parabéns por nos proporcionar mais esta reflexão, querido.
    Beijos*******
    Tenha um Lindo Dia!
    Renata
    Saio para cuidar-me e cuidar da festa do Papi.

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